Eu calo as palavras, poupo no vocabulário
É que para o meu silêncio ainda não há um dicionário
E eu não falo sem pensar e não quero pensar demais
Dispenso interpretações emocionais
Como todas as mulheres quero sentir que sou diferente
Sou o cliché da vida toda pela frente
Carente Q.B. como um domingo persistente, em que
Não sei porquê a gente tem o olhar ausente
Sou insegura, ponho a lupa nos defeitos
Tenho a fúria do espelho, dúvidas no peito
Às vezes não me valorizo, não grito quando é preciso
Não tenho juízo e vivo em função de outro individuo
Sou imperfeita mas esse é o nosso carisma
Se cisma e não aceita, não consegue ver um cisne
Beleza não se finge, aquilo que tu emanas, mana
Como uma esfinge fica sólida, uma deusa humana
E quando fraquejares vais repetir num sussurro
Aquilo que eu canto pra sorrir num dia escuro
Aquilo que eu canto pra sorrir num dia escuro
Eu cheiro a alfazema, eu sou poema
Eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
Eu cheiro a alfazema, eu sou poema
Eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
Somos o fruto da cultura que nos tolhe
Que nos escraviza p’la expectativa que escolhe
Impor em nossos corpos tortos para caber num molde
Impor em nossos sonhos mortos para servir a prole
Comportamentos amenos a menos que sejas louca
Com recato e em privado não te exponhas como a outra
Abre menos essa boca, poupa o teu questionamento
Rosto e corpo no ponto e com pouco pensamento
Tento fazer diferente, ser diferente dessa norma militantemente
Ser exemplo, contradizendo-o sempre
Contradições nascem com tradições opressivas
Como lições para sermos fracas e reprimidas
Sem auto-estima postas de lado como um talher
Não foi p’ra isso que nasci uma mulher
Não vou cumprir com a puta da expectativa
Não é para ela que oriento a minha vida
Não vou cumprir com a puta da expectativa
Não é para ela que oriento a minha vida
E fraquejando vou repetindo num sussurro
Aquilo que eu canto p’ra sorrir num dia escuro
E fraquejando vou repetindo num sussurro
Aquilo que eu canto p’ra sorrir num dia escuro
Eu cheiro a alfazema, eu sou poema
Eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
Eu cheiro a alfazema, eu sou poema
Eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
Se o cor-de-rosa, vem colorir o cinzento
E se querem que o embrulho tape a dor que dói por dentro
Eu renuncio ao desespero, eu recuso o que não quero
Não alimento o degredo que deriva do apego
E peço ao universo que me dê o que mereço
Sei que recebo o que ofereço de regresso sempre em dobro
Não me contento com pouco, não cobiço o que é do outro
Eu acredito no meu esforço e ergo sempre o meu pescoço
Posso perder-me às vezes, não vendo a rosa-dos-ventos
Mas tento deixar migalhas para saber voltar a tempo
Posso perder-me às vezes, não vendo a rosa-dos-ventos
Mas tento deixar migalhas para saber voltar a tempo
Eu cheiro a alfazema, eu sou poema
Eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
Eu cheiro a alfazema, eu sou poema
Eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
(Eu cheiro a alfazema
Eu sou poema
Eu sou poema
Eu sou poema)